sábado, 17 de maio de 2008

MISTIFÓRIO DE EMOÇÕES

Minha natureza é discreta, mas minhas emoções são intensas. Sou eu que permito a passagem do sol. Permito a luz e o calor à vida. Também recebo silenciosa o frescor das chuvas e protejo o ambiente da fúria dos temporais. Refresco os ambientes com a passagem das brisas e sou acariciada pelo balançar das cortinas. Às vezes sirvo de refúgio para que os namorados apaixonados murmurem juras à luz da lua. Em outras ocasiões, sou o ombro amigo que ampara aqueles que precisam refletir ou calar suas mágoas ou alegrias. Quando fechada abrigo a intimidade.
Apesar de tudo, sou tratada com insensibilidade, pronta a servir somente e nada a receber. Acolho, mas não sou vista porque o panorama tem mais graça e atrativos. Porém, sou eu que autorizo a aparição do exterior que tanto encanta quem de mim faz uso.
Sou feliz mesmo assim, pois sou consciente da minha imensurável importância. Sei que sou o elo entre o particular e o exterior. Medio esses dois mundos, eu...janela!

Dálma e Silvana

sexta-feira, 16 de maio de 2008

POESIA


Amar
Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal, senãorodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia,e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor, um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossaamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond